quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

TEATRO

A velha máscara na roda dos porvires
transfigurou-se em pele, em carne, em sangue,
enquanto o átimo dos existires
se tornou, inversamente, exangue...
Palcos e luzes a todo momento
recriam a velha peça interpretada
pelo âmago do tormento
de ver a própria cena descartada
por um rol de maus atores (bons mentirosos),
que deixam de representar a excelência
e gorjeiam aos ouvidos os monólogos lodosos
sob os quais se articula a trama da demência...

Na coxia o personagem principal socorre
a doce bailarina e o palhaço que adoecem,
pois nela aos poucos o brilho do mover-se morre,
e nele a boca que de si sorria se enrijece...
No último momento, fim do último ato,
a alma que dança arrebata ao próprio templo que sorri,
e com a força das mil cortinas que em mim corri,
demole o anti-teatro, recriando o anfiteatro num existir imediato....