domingo, 23 de agosto de 2009

VISTO DE BAIXO

O céu é uma redoma
que protege e expõe ao infinito
a reunião e o conflito,
a dualidade que não soma...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A POESIA DESPIDA

Ela me encontrou como que por acaso
em algum ponto mal iluminado na rua de meu peito,
e em seu semblente mais do que perfeito
havia mais do que o habitual descaso.
Em sua fronte, enrugada no pensar,
haviam linhas há séculos escritas
pela mão do eterno se lançar
de todas as frases ditas...
Havia a ordem implícita, inexplicável,
de tudo o que o sentir acusa ao atuar.
Havia o som da ordem inquestionável
de um rei que explica apenas a olhar.
Havia o meu olhar em meio a mil olhares,
e o ardor de um bruto sopro sobre o mar,
a realidade de tudo que enxergares...

Eis que me fez um sinal, a me chamar,
e, num cômodo fechado do meu peito,
despiu-se e em mim pôs-se a formar
palavras, sombras de um grande feito
que em minha ignorância posso imaginar
apenas. Era ela a poesia que se fez em mim
e despida, despiu-me enfim
para a eterna realidade de poetizar.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

INVASÃO

A terra se revolta na Terra de ninguém,
buscando equilibrar o cerne das vaidades,
os medos aflorados no breu das inverdades
que o ignorante homem desde então retém.

Eis o homem que se perde nos perderes
e busca ganhar nesse perder flagrante,
corroído na ilusão de alguns poderes
que ficam pela terra a todo o instante.

Sonho com uma ilusão amara
em que as águas subam numa invasão
e espalhem pelo mundo a justa destruição
que para o velho homem se fará cara.

Após essa visão apocalíptica,
com olhos de tristeza me levanto
e vago pela incerteza do acalanto
que mantém viva a Terra em órbita elíptica

(Luís Filho)
O PRIMEIRO POEMA

Desde que a palavra surgiu em minha boca
E meus ouvidos compreenderam seu som,
Compreendi que não era minha a boca,
Tampouco o poema que se escreve.
Me vejo como a ação de um pensar maior
Do que meu pensar, maior do que tudo
O que se imagina no vagar sobre esse globo
convincente... ilusório... transitório..

Quando aprendi a escrever meu nome,
me deixei a escrever o nome de tudo
enquanto vagava pelo todo que some
ao fechar dos olhos, e, contudo,
senti que o que some sequer existiu
assim como inexistem os nomes.
E assim um primeiro poema surgiu .