terça-feira, 27 de setembro de 2011

CORSÁRIO

Escrevo, me atenho, me retenho, e me lanço...
Descrevo, gesticulo, me contenho, danço,
e enquanto as vírgulas aos verbos enumeram,
as ações já se decompuseram...
Enquanto meus olhos saltados flutuaram na lunaridade
eclipsada de uma razão vadia,
meus braços desabraçaram o dia
e tolheram seu próprio artesanato com a inutilidade.
Falo, ando, penso e repenso, me anulo...
construo edifícios com água
enquanto meu olho deságua
a maré do artifício nulo...
Reticencio e espero as respostas
como se viessem da luz da rua,
enquanto a retina, ainda crua,
retalha as imagens em postas....
Há liberdade somente quando no armário,
com as portas trancadas e velas acesas,
traduzo imagens em palavras coesas
roubadas de mim mesmo, eterno corsário....

sábado, 17 de setembro de 2011

O VELHO MITO...

Um homem pisa a fronteira que existe
entre o breu da caverna e a cegueira da luz,
enquanto em seu olho a retina reduz
a tênue contra-luminosidade do olhar que insiste
em cartesianar a realidade...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

É NOITE



É noite, e somente a verdade
pode transcender à vaidade
da nuvem que tapa a lua
com sua cor metálica e crua
como espada de lâmina nua
a dividir em pedaços a cidade....

É noite, voz dita é sussurro,
não hesita, é murro
derrubando o grito
do dia restrito
pelo gesto do dito
que pela goela empurro...

É noite, violentamente escrevo
e provoco o relevo
irrelevante do poema,
coroado pelo diadema
de um irônico dilema...
o que há de luz na palavra que entrevo?