quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

ALTAR

Uma teia de fiapos de luz transparente
é tecida a partir do centro da edificação...
Nela não há qualquer indício de solificação,
apenas é, e é luz, e não mente.
Aos poucos se ramificam os caminhos
que a patir desse centro se espalham,
criando a ilusão de que retalham
qualquer coisa que não os seja, num complexo de desalinhos...
Aos poucos se percebe a arquitetura
de uma cidade ainda esboçada,
escrita em entrelinhas, projetada
pela percepção de quem da sombra enxerga, ainda escura...


É quando as imagens já não se destinguem
e o que é embaixo reflete o que é no alto.
Do plano da cidade se ergue o planalto,
para que a árvore e os frutos da verdade vinguem...


Esse altar, aos poucos, torna-se edificação,
protegendo a nova luz da velha dualidade,
fazendo com que a compreensão, à guisa de cidade,
abrigue em si milhões de aspectos da mesma Unidade,
recriando o tempo em forma de canção.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

É NOITE II

Eis a parca parte da cidade que sobrevive enquanto os homens dormem,
a luz humana e anti-humana que ainda sobrevive enquanto todos fingimos que morremos...
              o momento exato em que pulsa o coração de asfalto da cidade
em olhos multicolores,  versicolores como qualquer anseio,
                    versicolores como todas as dores de todos os que dormem e sonham
com aquilo que não acontece...
                           aquilo que some como cinema nas telas das pálpebras dos seres,
que sobrevive como se morresse a cada dia.
             A cidade é um ente vivo e pulsam suas cores,
repulsam a lógica e os amores
           até o momento em que tudo cala, em que tudo se abstém,
e há somente os ruídos dos animais,
                os animais de metal cujas rodas voam
por cima dos cadáveres dos sonhos que ora adormecem....

domingo, 8 de janeiro de 2012

SOPHIA

Enquanto se filosofa sobre mil verdades universais,
o tempo sente prazer em se esgotar,
em ver no traço da própria língua aquele esgar
que o prisioneiro do tempo carrega no riso e nos ais...
Pensar é agir, de fato, a ciência comprova...
no entanto é preciso exercício, iluminação,
não como aquela passiva, que permeia a imaginação,
mas aquela que busca a luz e se auto-renova...
Até que o mais incrível se manifeste, antes que se morra...
o fato parecemos à parte do Incógnito é ilusão,
somos cada vez mais deuses à medida que a atenção
nos mostra que fora e dentro são a mesma masmorra,
porém um aprisiona na cela da turba, é incompreensão,
o outro esconde sagrado deleite, a revelação
de que cada movimento representa a manifestação
do que acima se projeta, pura emanação,
ainda que Sophia mantenha suas pálpebras fechadas e somente sonhe
com a próxima revelação...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CIRCUMPUNCTUS

Estou em mim ou estou?
O ponto permeia o círculo
mantendo um poderoso vínculo
entre o quase nada e o todo que restou...
Não se sabe se olho, sol e rosa
já não são a mesma palavra
escrita com a mão mais poderosa,
a que, ainda que não vista, o todo lavra...

Se em mim o círculo traduz
aquilo que se manifesta de perfeito,
o ponto é o motivo que reluz
na obviedade do meu ser, rarefeito...
De ponto e círculo de mim
é feito o Sol que a mim governa,
despontando enfim a relação terna
entre a luz e o olhar, entre a mão e o sim
avalizados por um algo mais
que transcende ao próprio ponto
no qual círculo e ponto se tornam mais um conto
para aquele que se despiu da idéia de "jamais"...