quarta-feira, 21 de julho de 2010

À GUARATINGUETÁ

Assim que amaneceu o dia, o sono me arrebatou.
A madrugada foi repleta dessas estrelas do interior
que não se ve nas grandes cidades, e o calor,
tão inusitado, por muito pouco nao me matou.
Vejo ao longe uma igrejinha qualquer
em sua bela simplicidade,
e todo o movimento desta cidade,
de quem se move, mas não quer.
Me afeiçoo a cada momento em que vivo
nesse espaço, em que a simplicidade
tiraria uma onda com qualquer vaidade
dos doutos com os quais por vezes convivo.
Compreendo uma das portas do sentido da vida,
a da beleza da observação do corriqueiro,
que por vezes fugia ao meu olhar primeiro
em meio à vida curitibana, agora tão corrida.
Busco apenas no momento fingir dormir,
para que meu ouvido atente ao silêncio puro,
até que chege o momento fatídico, duro,
em que de repente me deparo com o ir...

domingo, 18 de julho de 2010

À UMA MUSA

À noite me anoiteço imerso em reflexões
sobre o que ocorrerá. Tenho consciência
do Sol que circundo, entre devaneios e paixões,
entre a afoitez e a paciência...

Há brisa na janela em que a bela
face dela contempla o infinito.
Demoradamete me perco, aflito,
nos pensamentos dela...
de cada traço de seu rosto
retiro um milhão de dizeres
que não traduzo, sem poderes;
sou a estátua em que eu mesmo me encosto.
Percebo a relatividade do existir,
mergulho em seu olhos e, no salto,
me dirijo direto para o alto,
para enfim, talvez, certamente sentir...
Sei que há algo, decerto contido,
que ela traz em cada sorriso lido
pelos olhos de um sonhador, que sou eu.
Percebo que a Lua que me envolve não morreu...
Percebo que o tempo, que na janela dela chove,
em minha alma enfim floresceu,
e quer que do Sol e da flor eu prove.

terça-feira, 13 de julho de 2010

TEMPLO

Baixei a pena por tempo indefinido,
as palavras se encarceraram no nó da garganta.
Conheci um desconhecimento que me espanta,
o de mim mesmo, em meu cárcere, contido.
Enquanto a cidade se move com suas luzes e pesares,
paro em mim e vejo o tempo que me move.
O tempo fora é como espelho: chove,
O tempo dentro é como um templo de olhares.

A rua se apresenta aos meus pés como consolação
ao meu parado centro que se engana
a cada trama que teço em minha gana
de esquecer que sou um ser de ação.
Enquanto ando sou todo olhos nos pés
e meu olhar unicamente anda.
No meu templo, a energia é branda
busca apenas as respostas e os cafés.
A paisagem é vista pelo coração,
que certamente ama a cidade em que vaga,
em especial quando o Sol apaga,
e as luzes são calma solidão.
No templo o tempo passa calmo,
e enquanto todos dormem, há reflexão,
há mundos inteiros de imaginação,
e de realidade, só um palmo...
Eis que desse palmo encontro a palma
da mão que ao violão recorre, sorrateira,
recorre a eterna inspiração primeira
de musicalizar a minha alma...
Enfim do olhar que vejo,
resta apenas o momento analítico,
o último olhar, crítico,
aponta a direção do que desejo.

Do cárecere contemplo o templo
e dele me liberto, certo
de que o templo não é cárcere,
e de que o cárcere não é templo.