quinta-feira, 12 de novembro de 2009

BASTA

Quem sabe um dia tudo acabe
e nos leve ao ponto certo de não sermos.
Quem sabe um dia tudo se tranforme
em menos do que o ar
e em mais do que a vida que levamos.
Quem sabe um dia essa angústiapor segredos termine
e o tempo exista como um aliado
nesta briga com o ninguém que somos nós...

Quem sabe um dia a poesia
deixe de escrever-se no papel
e recitar-se nos salões,
e volte a ser a linguagem do céu,
apesar dessa ausência de estrelas, apesar das
luzes da cidade, apesar da solidão
infecta das casas trancadas
que tem sido nossa cabeça e nosso peito...
apesar de inexistirem os pesares...

Quem sabe um dia a esperança plena
de que tudo seja o que é
deixe de existir,
para que vire o simples ser,
e deixe de ser o almejar.
Quem sabe um dia meu verbo cale
e com meu último sopro
eu expulse a última lágrima de afição do mundo, e a felicidade
seja um regra geral que todos seguem por querer.

Basta tua liberdade em aparecer,
basta nossa força em quebrarmos os espelhos
que escondem a alma.
Basta minha vontade de ser feliz.

Basta

sábado, 7 de novembro de 2009

A MORTE DO POETA

Um dia... o dia que viria a ser
a poesia esboçada que existe
no perene perecer...
o dia que insiste, consiste
em formar a ilusão de perder,
em criar a intenção de viver
sem que se possa fazê-lo,
labirinto sem novelo...

Um dia que sequer merece
cada hora das vinte e quatro,
posto que nunca fenece
na mente do outro
que fica, mas me esquece...
ao fechar os olhos apago
da memória do dia
meus rostos, anseios, afagos,
cada som de minha cantoria...

Apago o apego ao que grita
do lado de fora do armário,
como o bradar do corsário
roubando a paz que a mente descogita,
e de repente me apago
e me lanço no mar, navegar,
e a onda ao vento que trago
ajuda o capitão a comandar.

Um dia, um dia que viria a ser
o dia de ser, se há de morrer...
a poesia, o legado, ensinam
ou contaminam,
a luz das estrelas não guia o destino,
passa a sê-lo,
no dia em que o dia se ponha
sobre as rosas dos meus olhos.