segunda-feira, 14 de novembro de 2011

INFÉRTIL

Submergi na tela que pintei
quando o quadro em branco emitiu sua súplica...
Esdrúxula foi a rima da réplica
da poesia que reinventei...
Escritos, os ditos são diques
para um oceano de sentido
que inundaria cada instante vivido
em ti lendo, com a esperança de que te versifiques...

Da tela sem ismos do quadro e da lógica,
palavras berram sem a coroa de serem objeto,
tornadas apenas leve referência pelo pronome do caso reto
que as profere proliferando a inversão da experiência anagógica
de fazer do signo a catarse, e, do concreto, o resíduo direto
daquilo que sempre foi, ainda que só no tempo não haja,
ainda que aja somente como o bote da naja
após o aparente momento de estagnação semiológica....

Surrealista, talvez, o poema se contradiz...
o quadro, sem ismos, some.
Aos olhos o que se apresenta é o que condiz
com o que se enquadra em algum nome...

... enquanto o não-dito rompe o dique no rito
de fertilizar a terra com a destruição do que foi infértil....

terça-feira, 8 de novembro de 2011

IRÔNICO

Quis ser irônico, mas não consegui...
A ironia como arma necessita que o receptor
compreenda o tiro e reconheça a dor
de ser vencido pela genialidade monumental que ergui...
Vaguei pela retórica, cuspi na dialética,
torci a ideologia e, no entanto, meu sadismo permitido
se viu antitético em relação a si mesmo e, comedido,
se rendeu à incompreensão do outro, cega e epiléptica....
Quis então explicar-lhe como tão brilhantemente o venci
e, após tempos perdidos de lógica inabalável, o convenci...
Foi quando mim mesmo decepcionei, ao ver o quanto me assemelho
á imagem de meu receptor, dentro do espelho....

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CLÍMAX

Equilibram-se estações sobre a corda bamba dos meses,
enquanto a corda dos relógios trabalha
recriando o esplendor e a mortalha
em seu ciclo de infinitas vezes....
Dançam os momentos, ainda que petrificados,
em torno a um Todo ainda não visto,
que em mim vive, mas do qual disto,
por ainda não ver o quanto os passos são santificados...
"Ora e labora", me disseram, e eis que o faço,
muito embora, ainda trôpego, meu verbo seja o descompasso
da hora que perdi para que me ganhasse, em que refaço
o deslindar-se do momento em que não sou espaço...
Há então a valsa ternária em que sou solo,
enquanto no ar dois tempos se libertam,
o de mim enquanto tempo, que aos poucos assolo,
e o de mim enquanto a música que os anjos concertam...
E no momento exato que de qualquer momento dista
surge minha ansiada inexistência plena,
à qual me entrego como clímax da última cena
na qual me engole a alma que a si mesma conquista...