segunda-feira, 12 de março de 2012

HOMO SAPIENS SAPIENS VISIBILIUM II

O horizonte se enegrece em plena manhã,
os  caburadores se comunicam por sinais de fumaça.
Observo de longe a linha de uma desgraça
que se projeta lentamente e sem qualquer afã...
Mal desperto em um roto trajeto,
observo no asfalto mil ruas sobrepostas.
Outroras submersos em vias dispostas
uma sobre a não-outra formam um único e disforme objeto.
O caminho reflete o caminhante.
A caótica estrada é o retrato exato
dessa pseudo-vida, travestida de fato,
em que se perde cada motorista errante.

Sob a sombra dos arranha-céus,
poucos raios solares descortinam os véus
de uma diversidade incompleta,
de uma vacuidade existencial repleta
daqueles momentos que existem para serem esquecidos,
daqueles impactos levemente sentidos,
escondidos em algum lugar da consciência,
comandos binários da atual inteligência
implantados em nossos olhos, mentes e ouvidos...

Quantas milhões de vias-crucis há de haver
dentro das lojas e dos escritórios
cujos juros e valor futuro são o obituário
fútil e arbitrário da consciência de ser?
Quantos infinitos vagabundos serão projetados
da luz da indumentária insana
que retira do homem qualquer gana
ao enforcar-lhe qual golpe friamente arquitetado?
Quantos inúteis versos de sombras de artistas
berrando esse vazio continuado
serão em série distribuídos nas pistas
em que dança o engano, de beleza camuflado?

A resposta, senhoras e senhores, ecoará eternamente,
no fundo dos ouvidos de quem ouve.
Será óbvia quando, fora do tempo, finalmente,
se observar que o que se crê que existe
jamais houve....