O apartamento sussurra
através de seus canos,
a insônia insana me alegra
enquanto leio desesperadamente
e por obrigação.
O zumbido do transformador
que pende do poste
é uma sonata eletroacústica
aplaudida pela lascívia
das cigarras,
e eu, a invejá-las,
fumo um cigarro
e me transbordo em névoa
a ler o dito livro técnico
para trocar seu conteúdo
por outros papéis.
O sussurro do apartamento
me confia um absurdo segredo:
pouco importam amor e ódio
dirigidos à inutilidade das coisas.
Escrevo, leio, escrevo, leio...
no fim
sou só
meio...
A POESIA DESPIDA
sábado, 7 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
MANIFESTO URBANO
Metade dos pássaros da cidade
são pombas.
Em seus cantos mendigos
a raiva espreita
esperta,
tange com o bico
migalhas alheias,
pisa em tocos de cigarro
com seu único pé
e caga na cabeça
de seus benfeitores.
E temos que crer
que nelas reside
o Espírito Santo...
são pombas.
Em seus cantos mendigos
a raiva espreita
esperta,
tange com o bico
migalhas alheias,
pisa em tocos de cigarro
com seu único pé
e caga na cabeça
de seus benfeitores.
E temos que crer
que nelas reside
o Espírito Santo...
COLAR DE PRESUNTO
Pedaços de carne
entre os dentes
entre as vistas
sob os pés.
Embutidos,
a carne dentro
da carne...
Alongam-se yogues,
batem-se bifes
para manter bofes cheios
e manter viva a carne.
Padres erguem carnes
feitas de trigo
a continuar uma milenar antropofagia.
Mulher e homem
são embutidos
a gerar carne.
Tudo é carne.
No museu, um porco empalhado
ostenta
um colar de presunto.
Arte?
Tudo é carne
por toda a parte.
Parto.
A tudo descarto
em prol da fome
de carnes subterrâneas.
entre os dentes
entre as vistas
sob os pés.
Embutidos,
a carne dentro
da carne...
Alongam-se yogues,
batem-se bifes
para manter bofes cheios
e manter viva a carne.
Padres erguem carnes
feitas de trigo
a continuar uma milenar antropofagia.
Mulher e homem
são embutidos
a gerar carne.
Tudo é carne.
No museu, um porco empalhado
ostenta
um colar de presunto.
Arte?
Tudo é carne
por toda a parte.
Parto.
A tudo descarto
em prol da fome
de carnes subterrâneas.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
HINO A UM NOVO SÉCULO IGUAL
O
caos
cai
sobre
a pretensa organização
binária
dos
bits.
O
óbvio aos poucos
massacra
as metáforas
(que
agonizam na mente dos velhos
e,
com eles, contrairão
núpcias
além-túmulo.)
A
superpopulação do infrapensamento
apaga
do livro do homem
o
Verbo e suas derivações,
fazendo
da língua que resta
uma
ogiva de sentidos
que
cada vez menos significam.
O
atestado de óbito da Arte
jaz
enterrado na mente.
Nasce
um novo século igual...
igual
por amar a crise,
por
fomentar a ruptura,
por
expor novamente
o
indivíduo ao seu próprio vazio
vendendo-o
embalado
em
sacos de plástico
de
cores vibrantes
e
biodegradáveis.
Nada
de novo tempo!
Esqueçamos
por ora
a
Era de Aquário
que
nos legaram os hippies.
O
tempo não existe
como
tudo o que é relativo.
Eu
existo,
e
quando o percebo,
me
plenifico
e
amo o absurdo
que
são as horas,
enquanto
a informação perpassa
os
ares entre a terra
e
os satélites,
apesar
das sombras
do
lixo espacial
a
expor as sobras
do
sagrado estado interior,
ora
vendido nas fotos
das
redes antissociais,
nas
opiniões anônimas e desimportantes
de
quem ecoa frases entre aspas
sem
sequer saber mentir...
Na
África, a fome é o marketing,
é
o lucro hollywoodiano,
é
o desvio de diamantes,
o
entorpecimento dos sentidos,
é
a infinidade de cultos deturpados
(tendo
um Egito ao norte),
é
o habitual desespero
da
guerrilha
abaixo
do sol.
Na
América Latina
regozija-se
a preguiça
com
seu uniforme de trabalhador,
o
pseudocomunismo,
a
ausência de princípios,
o
sexo e sua indústria,
o
catolicismo fadado ao fracasso
pelos
corpos vivos e inertes
de
quem mente uma simplicidade
que
não quer ter em si.
Na
Europa
a
podridão soberba
e
determinista
de
um povo bárbaro
e
imoral
que
mantém em suas construções
pedras
angulares feitas
do
ouro alheio,
a
racionalidade pouco inteligente
e
o medo do gesto, o medo do toque,
o
medo de que se descubra a sujeira
de
sua pele,
defendido
com o argumento
da
pretensa sujeira alheia.
Na
América do Norte
a
mentira da liberdade
pretende
o controle de tudo,
gananciosamente
vendendo
as
vidas dos próprios americanos
por
petróleo árabe, por urânio enriquecido,
por
informações vis de incautos internautas;
a
degradação de si mesmo
e
o orgulho
de
uma sombra
de
um tempo anterior
que
não existe
copulam
com o caos que ainda cai...
Na
Ásia, o inútil viés exotérico
vende
nadas pelo mundo
enquanto
se escravizam bilhões
por
novos emaranhados
de
fios elétricos mais sutis,
enquanto
à deriva
dormem
em gavetas
indivíduos
austeros
e
seus videogames
a
parodiar a realidade...
Na
Oceania
um
resquício lemuriano
ainda
finge que não existe
até
que brevemente
submergirá
sob
o Oceano Pacífico,
esporte
radical velado
por
motivos ainda ocultos...
Me
vejo sentado em uma pedra
(devo
perguntar novamente
se
a pedra sou eu?)
enquanto
leio e assisto às notícias
que
me conduzem ao medo do mundo.
Sou
indiferente à crise econômica,
às
questões políticas,
ao
apocalipse pregado
pela
televisão
em
programas madrugueiros,
às
teorias da conspiração
que
conspiram em favor
da
destruição de significados profundos
de
infinitos símbolos de autor anônimo...
Músicas
de sucesso
me
enervam
nos
Domingos cada vez mais inúteis
(o
que se fez dos Sabbaths?),
enquanto
os filósofos atuais
ainda
se importam
em
chamar de pós-moderna
essa
atitude estática
em
que me enquadro,
paródia
perfeita
da
maravilha de Basquiat,
da
turba infernal das linhas
descontínuas
que
são meu horizonte.
Leminskis
e Shakespeares
são
minhas noites ébrias
em
que me expulso
para
que o tempo passe,
ainda
que não exista,
pois
não faz diferença alguma.
Cães
latem em minha madrugada
suburbana
humana
vazia,
enquanto
passa o caminhão de lixo
que
aos poucos acumula
o
resto do consumo
em
pilhas de venenos aterradas
em
espaços abertos para todos verem,
para
todos cheirarem
e
apodrecerem gradativamente.
O
caos que cai
assassina
a beleza
com
um beijo
enquanto
minha inutilidade
me
mantém deitado
pensando
no fio de Ariane,
novelo
impossível
e
belo
tecido
por parcas cegas
a
formar mosaicos
anacrônicos.
O
Cristo ri da minha cara
com
razão
por
detrás da redoma da noite.
A
Lua crescente
mostra-me
Seus dentes
como
uma lente diminutiva.
O
mundo trafega
e
o novo século velho
novamente
se apega
ao
ego,
enquanto
eu o reflito,
o
imito,
tão
filho que sou
dessa
sequência de dias
a
que se atribuíram números,
tão
pai que sou
da
velharia nua que produzirei
e
vestirei com as roupas sintéticas
das
palavras que manipulo,
tão
espírito que sou
desta
pedra que circunda o astro-rei
sem
saber
até
quando...
O
zero e o um
são
a nova
bomba
atômica.
Que
explodam.
Há
de restar o nada.
A
face de Deus,
como
a de seu filho,
enfim,
dando risada.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
A
O alfabeto
inicia-se
na negação.
A letra primeira
contradiz
conjuntos ulteriores
de verdades.
Acreditar
é nunca dar crédito,
Amor
é o que é menor
entre os menores,
Aula
são todas as baías
piscinares
em que ondas não quebram,
Avisar
é não pretender
nada,
Acordar
é desamarrar-se...
Ao fim
de uma oração
ao pai
me sinto
Amen
inicia-se
na negação.
A letra primeira
contradiz
conjuntos ulteriores
de verdades.
Acreditar
é nunca dar crédito,
Amor
é o que é menor
entre os menores,
Aula
são todas as baías
piscinares
em que ondas não quebram,
Avisar
é não pretender
nada,
Acordar
é desamarrar-se...
Ao fim
de uma oração
ao pai
me sinto
Amen
sexta-feira, 19 de julho de 2013
SOU(L)
sexta-feira, 5 de julho de 2013
POUCO
Não quero passos.
Passos passam e são
pouco...
Não quero vozes:
signos atrozes
que são pouco.
Não quero pensamentos,
essas vozes e passos dentro
que são pouco...
Não quero sentidos,
pensamentos do corpo
que são pouco...
Não quero o domínio
dos passos-pensamento
e das vozes-sentido
esses estigmas da libido
que é tão pouco...
Não quero o Universo,
libido de Deus
a criar nebulosas
a partir do oco
que ainda é pouco...
para sempre
humano
sapiente de ser sapiente
de ser sapiente pouco
e infinitamente
sob minha
lente
nada me é
suficiente.
terça-feira, 2 de julho de 2013
SINARTIFÍCIO
A SINA DAS SINAPSES
É A DE SER UM SENTIDO
SIBILINO E SIBILANTE:
UM DRAGÃO A TRAGAR
O VAZIO JÁ DERRETIDO
PELO SEU HÁLITO
E DIVIDIDO PELA BIFURCAÇÃO
DE SUA LÍNGUA;
UM MEGÁLITO
A FAZER SOMBRA
NO CÍRCULO DE STONEHENGE,
INCOLUMEMENTE IMPOTENTE
EM SUA FÁLICA FALÊNCIA...
A SINA DAS SINAPSES
É SER MINHA SINOPSE
E MEU HINO HIPNOPÉDICO,
CONTRAMANTRA ANTIVÉDICO
DE MINHA ÓBVIA REALIDADE.
A SINA DAS SINAPSES
É A DE SER SEMPRE
UM COFRE ...
A SINA DAS SINAPSES
É A DE SOFRER POR MIM
O QUE NÃO SOU EU
QUEM SOFRE.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
LIVRO VERMELHO
De repente o Livro Vermelho
me deu uma alma
que falava comigo.
Me deu um signo
diferente da cor
e da sua primeiridade.
Tudo era a claridade
da turba semântica
a produzir energias
circulares.
Fecho os olhos.
Adham foi o primeiro homem.
Seu nome significa "vermelho".
me deu uma alma
que falava comigo.
Me deu um signo
diferente da cor
e da sua primeiridade.
Tudo era a claridade
da turba semântica
a produzir energias
circulares.
Fecho os olhos.
Adham foi o primeiro homem.
Seu nome significa "vermelho".
quinta-feira, 16 de maio de 2013
POR VIR ES e PONTILHISMO
Os postes mantém a postura
a observar os mosaicos que a chuva manipula.
Curvados como quem busca o detalhe,
tornam-se spotlights de um show sem business,
transformando um pontilhismo primitivo
em constelações orbitando no solo,
solares a ponto de curvar os postes
e as costas dos passantes
com sua gravidade...
Quantas vezes pode a chuva
desenhar a minha expressão na rua
despercebidamente
e murmurar aos meus ouvidos o óbvio
em sua língua de ruído branco?
Em meus olhos, óculos molhados
sob um guarda-chuva vacilante.
Aos meus pés, todos os livros já escritos
e porvires ainda premeditados
em menos de meio instante...
a observar os mosaicos que a chuva manipula.
Curvados como quem busca o detalhe,
tornam-se spotlights de um show sem business,
transformando um pontilhismo primitivo
em constelações orbitando no solo,
solares a ponto de curvar os postes
e as costas dos passantes
com sua gravidade...
Quantas vezes pode a chuva
desenhar a minha expressão na rua
despercebidamente
e murmurar aos meus ouvidos o óbvio
em sua língua de ruído branco?
Em meus olhos, óculos molhados
sob um guarda-chuva vacilante.
Aos meus pés, todos os livros já escritos
e porvires ainda premeditados
em menos de meio instante...
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
"LA MER"
Escuto Debussy enquanto penso.
"La mer" ecoa em minha sala,
na câmara de ressonância que é minha cabeça
e nas paredes do vizinho iletrado que detesta Debussy...
Não escuto o mar,
só sons,
e eles não me dizem nada,
não me fazem confidências,
não me xingam, não me chamam para jantar,
não me beijam nem me repugnam...
São capazes de arrepiar,
por isso são mais epiteliais do que auditivos,
ao contrário do mar,
que não seria nada sem som.
Está escuro, e nada do que imagino
é provocado pelo que ouço,
mas pelos sentidos embotados
e pela mente que tenta significar
a primitividade do som da orquestra
como se segurasse o mar com os olhos
e quisesse que este não lhe fugisse.
A música não diz.
Nunca.
Ela é antes de ser sentido,
ou nunca foi...
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
ZOMBIE, WALK
De novo carnaval, Curitiba é morta.
De sua cruel alegoria
renasce a vampiresca sinestesia
de um bruxo carnaval pulsando em sua aorta.
Curitiba é coração, ainda que mastigado
pelos milhares de zumbis que dela brotam.
É a distensão do músculo vital embriagado
pelo sangue feito de mel que os jovens comportam
em suas bocas pseudo-cruéis que gargalham
da própria morbidez.,
intensificada na mentirosa tez
em que parâmetros se retalham.
És Brasil e não sabes,
Curitiba dos remanescentes
que abre as portas da loucura
durante o show de estrelas decadentes,
rockeando a expressão de alegria
ao tornar-te, inteira, a fantasia
em que explodes, coração que és
por um amor invertido ao carnaval.
Sem viés,
perenal...
De sua cruel alegoria
renasce a vampiresca sinestesia
de um bruxo carnaval pulsando em sua aorta.
Curitiba é coração, ainda que mastigado
pelos milhares de zumbis que dela brotam.
É a distensão do músculo vital embriagado
pelo sangue feito de mel que os jovens comportam
em suas bocas pseudo-cruéis que gargalham
da própria morbidez.,
intensificada na mentirosa tez
em que parâmetros se retalham.
És Brasil e não sabes,
Curitiba dos remanescentes
que abre as portas da loucura
durante o show de estrelas decadentes,
rockeando a expressão de alegria
ao tornar-te, inteira, a fantasia
em que explodes, coração que és
por um amor invertido ao carnaval.
Sem viés,
perenal...
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
RISADA
Morte súbita, frágil
fronteira entre estados.
Escape ágil,
contraste entre nadas
violados
pelo limite da vista.
Soluto do tempo,
sem microscópio
é mudança,
é vida, portanto,
pois somente a morte não muda.
Clarificada a vista,
ilimitando a matéria
em cima é embaixo
e meu cadáver
é o que me faz sentir vivo.
Por isso sei que hei de rir
mesmo fora dele
quando me ver rindo pra mim
daqui a mil anos,
em volta dos narcisos...
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
A POESIA DESPIDA III
Meus signos dançam,
meu sentido segue,
meus neurônios cansam
Ainda que se pregue
a verdade na parede
ela baila como signo
de algo incerto sempre...
Minha voz desenha
o que minha letra soa,
e chama de poema,
fazendo dessa inerte arte
um obscuro diadema
coroando cada parte
dessa rima à toa
que me resenha.
A poesia mente
porque veste
com sua face risonha
o lugar agreste
da palavra...
e quando despe
o desespero cru
de existir falando,
é ela que se torna nua,
caveira que sugere o humano..
domingo, 9 de dezembro de 2012
ORAÇÃO
Falam-me continuamente sobre Deus,
querendo que eu creia Nele
como creio em minha pele,
em meus olhos ou qualquer dos versos meus.
Dizem que Cristo me salvou,
que há de se atingir o nirvana,
que há em toda existência humana
algo que d'Ele emanou.
Creem que preciso de oração,
que preciso de luminosidade,
que conto com a proteção
de Sua divindade.
Fico em silêncio, mas não medito,
sigo simplesmente,
enquanto em minha pele sinto
minha interna comunicação,
enquanto meu ato é minha oração,
enquanto o nirvana é constante,
desde que, obviamente,
meu silêncio se levante
para que eu me oriente.
A voz de meus irmãos
se perde no eco de seu passado
até morrer na era medieval...
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