quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

"LA MER"

Escuto Debussy enquanto penso.
"La mer" ecoa em minha sala,
na câmara de ressonância que é minha cabeça
e nas paredes do vizinho iletrado que detesta Debussy...
Não escuto o mar,
só sons,
e eles não me dizem nada,
não me fazem confidências,
não me xingam, não me chamam para jantar,
não me beijam nem me repugnam...
São capazes de arrepiar,
por isso são mais epiteliais do que auditivos,
ao contrário do mar,
que não seria nada sem som.

Está escuro, e nada do que imagino
é provocado pelo que ouço,
mas pelos sentidos embotados
e pela mente que tenta significar
a primitividade do som da orquestra
como se segurasse o mar com os olhos
e quisesse que este não lhe fugisse.

A música não diz.

Nunca.

Ela é antes de ser sentido,
ou nunca foi...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ZOMBIE, WALK

De novo carnaval, Curitiba é morta.
De sua cruel alegoria
renasce a vampiresca sinestesia
de um bruxo carnaval pulsando em sua aorta.
Curitiba é coração, ainda que mastigado
pelos milhares de zumbis que dela brotam.
É a distensão do músculo vital embriagado
pelo sangue feito de mel que os jovens comportam
em suas bocas pseudo-cruéis que gargalham
da própria morbidez.,
intensificada na mentirosa tez
em que parâmetros se retalham.

És Brasil e não sabes,
Curitiba dos remanescentes
que abre as portas da loucura
durante o show de estrelas decadentes,
rockeando a expressão de alegria
ao tornar-te, inteira, a fantasia
em que explodes, coração que és
por um amor invertido ao carnaval.
Sem viés,
perenal...