O
caos
cai
sobre
a pretensa organização
binária
dos
bits.
O
óbvio aos poucos
massacra
as metáforas
(que
agonizam na mente dos velhos
e,
com eles, contrairão
núpcias
além-túmulo.)
A
superpopulação do infrapensamento
apaga
do livro do homem
o
Verbo e suas derivações,
fazendo
da língua que resta
uma
ogiva de sentidos
que
cada vez menos significam.
O
atestado de óbito da Arte
jaz
enterrado na mente.
Nasce
um novo século igual...
igual
por amar a crise,
por
fomentar a ruptura,
por
expor novamente
o
indivíduo ao seu próprio vazio
vendendo-o
embalado
em
sacos de plástico
de
cores vibrantes
e
biodegradáveis.
Nada
de novo tempo!
Esqueçamos
por ora
a
Era de Aquário
que
nos legaram os hippies.
O
tempo não existe
como
tudo o que é relativo.
Eu
existo,
e
quando o percebo,
me
plenifico
e
amo o absurdo
que
são as horas,
enquanto
a informação perpassa
os
ares entre a terra
e
os satélites,
apesar
das sombras
do
lixo espacial
a
expor as sobras
do
sagrado estado interior,
ora
vendido nas fotos
das
redes antissociais,
nas
opiniões anônimas e desimportantes
de
quem ecoa frases entre aspas
sem
sequer saber mentir...
Na
África, a fome é o marketing,
é
o lucro hollywoodiano,
é
o desvio de diamantes,
o
entorpecimento dos sentidos,
é
a infinidade de cultos deturpados
(tendo
um Egito ao norte),
é
o habitual desespero
da
guerrilha
abaixo
do sol.
Na
América Latina
regozija-se
a preguiça
com
seu uniforme de trabalhador,
o
pseudocomunismo,
a
ausência de princípios,
o
sexo e sua indústria,
o
catolicismo fadado ao fracasso
pelos
corpos vivos e inertes
de
quem mente uma simplicidade
que
não quer ter em si.
Na
Europa
a
podridão soberba
e
determinista
de
um povo bárbaro
e
imoral
que
mantém em suas construções
pedras
angulares feitas
do
ouro alheio,
a
racionalidade pouco inteligente
e
o medo do gesto, o medo do toque,
o
medo de que se descubra a sujeira
de
sua pele,
defendido
com o argumento
da
pretensa sujeira alheia.
Na
América do Norte
a
mentira da liberdade
pretende
o controle de tudo,
gananciosamente
vendendo
as
vidas dos próprios americanos
por
petróleo árabe, por urânio enriquecido,
por
informações vis de incautos internautas;
a
degradação de si mesmo
e
o orgulho
de
uma sombra
de
um tempo anterior
que
não existe
copulam
com o caos que ainda cai...
Na
Ásia, o inútil viés exotérico
vende
nadas pelo mundo
enquanto
se escravizam bilhões
por
novos emaranhados
de
fios elétricos mais sutis,
enquanto
à deriva
dormem
em gavetas
indivíduos
austeros
e
seus videogames
a
parodiar a realidade...
Na
Oceania
um
resquício lemuriano
ainda
finge que não existe
até
que brevemente
submergirá
sob
o Oceano Pacífico,
esporte
radical velado
por
motivos ainda ocultos...
Me
vejo sentado em uma pedra
(devo
perguntar novamente
se
a pedra sou eu?)
enquanto
leio e assisto às notícias
que
me conduzem ao medo do mundo.
Sou
indiferente à crise econômica,
às
questões políticas,
ao
apocalipse pregado
pela
televisão
em
programas madrugueiros,
às
teorias da conspiração
que
conspiram em favor
da
destruição de significados profundos
de
infinitos símbolos de autor anônimo...
Músicas
de sucesso
me
enervam
nos
Domingos cada vez mais inúteis
(o
que se fez dos Sabbaths?),
enquanto
os filósofos atuais
ainda
se importam
em
chamar de pós-moderna
essa
atitude estática
em
que me enquadro,
paródia
perfeita
da
maravilha de Basquiat,
da
turba infernal das linhas
descontínuas
que
são meu horizonte.
Leminskis
e Shakespeares
são
minhas noites ébrias
em
que me expulso
para
que o tempo passe,
ainda
que não exista,
pois
não faz diferença alguma.
Cães
latem em minha madrugada
suburbana
humana
vazia,
enquanto
passa o caminhão de lixo
que
aos poucos acumula
o
resto do consumo
em
pilhas de venenos aterradas
em
espaços abertos para todos verem,
para
todos cheirarem
e
apodrecerem gradativamente.
O
caos que cai
assassina
a beleza
com
um beijo
enquanto
minha inutilidade
me
mantém deitado
pensando
no fio de Ariane,
novelo
impossível
e
belo
tecido
por parcas cegas
a
formar mosaicos
anacrônicos.
O
Cristo ri da minha cara
com
razão
por
detrás da redoma da noite.
A
Lua crescente
mostra-me
Seus dentes
como
uma lente diminutiva.
O
mundo trafega
e
o novo século velho
novamente
se apega
ao
ego,
enquanto
eu o reflito,
o
imito,
tão
filho que sou
dessa
sequência de dias
a
que se atribuíram números,
tão
pai que sou
da
velharia nua que produzirei
e
vestirei com as roupas sintéticas
das
palavras que manipulo,
tão
espírito que sou
desta
pedra que circunda o astro-rei
sem
saber
até
quando...
O
zero e o um
são
a nova
bomba
atômica.
Que
explodam.
Há
de restar o nada.
A
face de Deus,
como
a de seu filho,
enfim,
dando risada.
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