terça-feira, 9 de março de 2010

PENSATIVO

A grande cidade se engrandece e se ausenta
quando sumo por suas vielas,
na quase noite que se apresenta
na luz indecisa das janelas.
Nos rostos de cada passante
o reflexo da vida que passou
se faz presente, falante,
enquanto observo parado o que não sou...
Conscientes de sua ciência,
passam os cérebros inconscientes
de si, reticentes como a demência,
com suas frases veementes,
com seus olhares descrentes,
seus viveres inconstantes...
Seus fardos importantes
são pesos inúteis e evidentes.

Observo apenas o que dentro vejo
e externamente projeto.
De tudo, o único saber concreto
é que observo o que sou e não o que desejo.
Enquanto não desperto
os passantes que adormecem,
meus anseios se arrefecem,
mortos por um ego encoberto.
Sou cada passante, inconstante,
evidente, pesadamente inconsciente
da reticente falta de ser vivente
e pensativo, ao invés de pensante.

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