quarta-feira, 11 de maio de 2011

CONTEMPLAR

Avaro, o contemplar em si mesmo se perde
enquanto das pedras da calçada brota um poema
difusamente, aos poucos espalhado pela sola blasfema
de quem passa o pisando, sem ter quem o herde.
Há em tudo um nexo de existir
proveniente da mesma oculta fonte,
ainda que a multidão da divisão aponte
o motivo e sentido contrários do velho elixir.
Cada pedra da calçada se faz mais filosofal
do que a filosofia distribuída avidamente
pelo puro se esganiçar da mente,
ausente de sua linguagem essencial;
é necessário contemplar libertamente
o quão pétrea é nossa estática visão,
para que se extinga a perene ilusão
de nosso conjecturar aparente...

Desse modo é possível que se enxergue
que o mundo eternamente pulsa,
e, independente de toda a multidão convulsa,
seu pulso não há quem postergue.
Pode-se chegar então ao momento
em que pedra, contemplação e pensamento
se chamem poema, luz, compreensão,
enquanto o dourado do Sol coroa a intuição.

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