quinta-feira, 4 de março de 2010

TOTEM

Em minha parca idéia de subexistir
em torno a todo o lixo de mim mesmo,
me entrego ao desinsistir,
negando e fugindo a esmo...
Minha poesia tem sido ridícula,
minha vontade é minada
por uma vaidade contaminada
em que a razão especula
se existe como meio ou como fim.

Sinto no peito uma explosão
que contenho como quem nega
um crime, como quem não se entrega.
De poeta só tenho a intenção
nesta época de hoje em que a escrotice
é maior do que a alma, e a idiotice
é atribuir ao escroto a razão.
Me perco e não me encontro
em nada e em lugar nenhum,
e aquele sentimento de que tudo é Um
se perde em meu próprio desencontro.

Seguro um grito, uma expressão, um gesto,
com a força de quem domina um titã
não me sou mais, sou escrita vã,
sou exatamente tudo o que contesto.
Talvez no fundo acredite
que Deus haverá de me salvar
pra que eu possa enfim cantar
pra alguma platéia que me credite.
Meu ego é cretino, certamente
mais do que o maior demente,
menos do que o menor inconsciente
e não me leva a nada pensar,
e meu agir é apenas divagar sobre o nada
que não se viu e o todo que não experimentei.

Com o tempo vou crendo que me detesto
e faço a mim mesmo um protesto:
Volta talvez pro teu sono infértil
de quem se julga grande e seja feliz
com a beleza da ponta de teu nariz.
Se esqueça dos sonhos que se erguem
sobre totens majestosos e se perdem
num simples resvalar em sua base...
Não seja o totem que sustenta
sonho outro de alguem qualquer,
pois uma hora o peito arrebenta,
uma hora arrebentar ele quer....
Te encontre e basta que isso te baste
não se impressione com o embate,
não tema a desilusão
não fale mais que a ação,
não sejas o que estás,
seu covarde!!!!!

Um comentário:

  1. Acho que Fernando Pessoa desistiu e sumiu para dar lugar a outro poeta que é tão grande que não sabe o tamanho que tem, posto que não pode, dada a sua estatura, mesmo se notar. Lindo totem de mim que vi aqui.

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