segunda-feira, 28 de março de 2011

CHAVE

Cérebro, és o Cérbero de meu inferno
quando teu lado Orfeu se ausenta.
Quisera ter uma lira de som terno
para ludibriar tua fome, atenta.
Resgatar-te-ia do reino dos mortos
para que contemplasse os ortos
de dentro de ti mesmo, Universo.
Livrar-te-ia do olhar perverso,
que, ao te retrogradar o passo,
firma a ponta seca do compasso
de teu suicídio orgulhoso,
efeito de descrer em algo mais poderoso
do que a própria idéia de si.

Seríamos então um quadro impressionista
cuja tela se confundiria com seu chassi,
e cujo ponto de fuga de minha vista
seria o ponto alto de tua idéia.
Da justa morte de Medéia
ao último drama wagneriano,
extrairíamos a chave do que é humano,
feita para que se abrissem as portas
de todas as artérias aortas
rumo ao templo que em todos resplandece
como o único altar ao qual a alma desce.



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