domingo, 6 de março de 2011

MÁSCARA TRANSPARENTE

Carnaval, caíste como uma luva
para minha ausência,
neste dia em que a chuva
é a minha interior aparência.
Exponho minha verdadeira face
somente quando o disfarce
me impede de saber quem sou.
Se sou pirata que naufragou
ou poeta que se escondeu,
apenas mais um copo sabe;
então me sirvam antes que desabe
a água de algum céu que escureceu
cá dentro e se omitiu da fantasia
transformada em batucada,
na euforia desvairada
em que até a rosa cantaria
se não fosse o próprio enredo
da canção reproduzida
por multidões de uns sós sem medo
de entregar-se um dia à vida.

Carnaval, vieste com teu manto
de cor catártica e viva
cuja língua é um esperanto,
universalmente ativa,
ogiva que em meu núcleo se contrai,
explode em sons de tamborins
e reconstrói a cidade em que cai,
minha mente e seus inúteis fins...

para que enfim nasça a quarta-feira,
na qual as cinzas da fantasia derradeira
se convertam na fênix de mim mesmo
a explorar o firmamento que já conhece
desde o dia em que morreu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário